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O tempo da dor

Quando a gente ouve que “com o tempo passa”, tendemos a menosprezar o sentido dessa frase por nos parecer assim tão óbvia. Ficamos até revoltados com quem, aparentemente, não conseguiu arrumar algo mais criativo para nos dizer num momento de crise! Crescemos ouvindo isso de nossos pais e avós e, muitas vezes, ignoramos como podemos tirar vantagem efetivamente do conceito de tempo.
Passado o choque inicial, quando nos desesperamos, sabemos então que vamos entrar num período conturbado, que é quando nos vemos obrigados a lidar com esse novo elemento. A dor chegou, com ou sem aviso prévio, está ali diante de nós e sabemos que teremos que administrá-la de alguma maneira! Cada ser humano tem uma percepção e sensibilidade próprias e, portanto, cada um encontra uma maneira de lidar com ela: alguns se ocupam, buscam distrações, amigos para desabafar, terapias, espiritualidade, enfiam a cara no trabalho, alguns nutrem o sofrimento, cultivam o vitimismo, se afundam feio na negatividade, não suportam o peso e deixam a dor crescer em modo avalanche.
Sim, tem dores que sabemos administrar melhor que outras. Tem dores que conseguimos enfrentar, sabendo que temos algo a aprender no processo, conscientes de que, por algum motivo- muitas vezes desconhecidos no presente - precisamos passar por aquilo. Algumas são a vida que nos apresenta e outras que, de maneira indireta, buscamos. Outras dores simplesmente nos despedaçam!
Agora, se tivermos a boa vontade de querer utilizar, como medida coadjuvante no processo, a fé no poder do tempo, podemos encontrar nisso uma excelente ajuda! A pergunta é: em quanto tempo será que essa dor terá diminuído?? Daqui a dois anos, estarei ainda chorando como hoje?? Estarei lembrando dessa dor em cada minuto do dia?? Estará essa questão me impedindo de continuar com minha rotina?? Muitas vezes nossa resposta será simplesmente..“não”!!!
Imagine um período de tempo que você considera razoável para que você não esteja mais sentindo tanto, levando em consideração os aspectos da sua personalidade e a natureza da sua dor. Se daqui a, por exemplo, um ano, você  acredita que não estará mais sofrendo, se agarre com todas as suas forças a esta data. Visualize ativamente, imagine esse futuro com todos os detalhes, escreva, se sentir que funciona pra você, uma página de um diário relatando esse dia no futuro. Pense que o tempo, inevitavelmente passa e sua dor já está amenizada nessa data. Sim, você terá que atravessar cada dia até chegar lá, e não, não será fácil, principalmente se estamos lidando com a perda de algo ou alguém que amamos. Lidar com a pequenez dos mínimo detalhes da rotina pode se tornar massacrante enquanto atravessamos esse período. Mas às vezes, tudo o que temos para nos sentirmos melhor é nos agarrarmos ao fato de saber que, daqui a determinado período de tempo, nossa dor já estará resolvida, ou pelo menos atenuada.  Pode ser esse o pensamento que vai fazer toda a diferença.

Certamente, muito vai  depender da sua boa vontade em vencer a situação, do carinho e nível de acolhimento que você tem consigo mesmo. É muito importante nutrirmos esse amor em relação nós mesmos, nos abraçarmos e nos desejarmos, do fundo do nosso coração, a nossa própria superação.

Afinal, já estamos melhores. A data ainda não chegou, mas uma única coisa é concreta:  estamos, inevitavelmente,  de mãos dadas com o tempo, esse grande mestre curador,  caminhando em direção a ela!

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