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Mostrando postagens de 2014
Couraças. Já me despi de várias. Tenho descoberto muito do que há dentro de mim, tateando labirintos que se abrem por dentro. A cada passo que avanço, novos caminhos se desdobram. Portas vão se abrindo, fechando, atalhos se insinuam, dependo da intenção do passo. Dependendo de onde o passo, de fato, marca a pegada. Porém, não há retorno. Conhecimento não aceita rewind. Qualquer caminho de volta não será mais o mesmo. Outras portas, outras esquinas, outra paisagem. Não que realmente caminhos tenham mudado. Mas sim, o olhar, o sentir. Jamais voltarei ao mesmo lugar. Nem à mesma pessoa. E enquanto me encontro, me perco, labirinto infinito. Conhecendo-me quando me desconheço. Não me reconhecendo ao me conhecer. E, nesse caótico estranhamento, reconstruo minha lógica, que, certo, não existe em seu sentido absoluto, mas a busca é necessária. Vou montando meu quebra-cabeça, com peças mutantes, de efêmero encaixe. Reorganizando as conexões. Buscando a compreensão, ainda que esta não implique
Quando a gente cansa, o sentimento cansa, mas não reduz a marcha... aos trancos e barrancos, atravessando os dias, atropelando a razão, ignorando a vontade e todas as promessas de estar no controle. Fecho os olhos, me entrego ao tempo porque o momento... talvez nem chegue.
Recebo a ausência que você me dá. Vou agarrá-la com braços firmes e não preenchê-la com mais ninguém. Só tua e minha ela será. Assim, então, a solidão que me contém estará transbordando de você. E comigo, enfim, no não estar, você para sempre estará.
tem uma multidão na minha solidão: de onde vêm, pra onde vão? aqui onde preciso... não estão. o quanto disso é memória? o quanto é projeção? você, se foi foi real, qual foi a proporção?
ainda sinto esses teus olhos de domingo reservados, seletivos, fugidios e quando lembro do olhar que me devolvem ferve a mensagem que espalham no meu sangue: decifra-me... e... devora-me... (muita curiosidade...muita!) "quanta profundidade naquele ser" e eu continuo despencando em queda livre em você
eu te vi passar na rua pensei em não te chamar você me pareceu diferente não anda mais como andava não olha mais como olhava não reconheci sua roupa você me pareceu tão distante no meio de todos na rua eu te enxergava tão longe será que fui eu que mudei? será que você me vê assim também? acho que te amei agora já nem sei... pensei em te chamar você me pareceu tão ausente não fala mais como falava não beija mais como beijava não reconheci sua boca indiferente iguais a todos da rua
A Ilha Vou à Pala ouvir o mainá: "Atenção, atenção! Aqui e agora!" Cantar, cantar... Vou à Pala beber moksha, escalar os montes, orar em transe em Shivapurang. Vou à Pala virar sábio, almoçar insanidades, mastigar mentiras até cuspir verdades. Vou à Pala aprender ioga Tantra, entoar os novos mantras: "Shanti shanti shanti", com asas rosa e branco. Vou à Pala Peter Pans e Homens-Músculos, beneficiários e vítimas de todos os seus cultos e tantos dons ocultos Vou à Pala... A Ilha Proibida. Eterno estrangeiro, aqui e no mundo inteiro... Sou só uma ilha perdida.
Tenho sempre uma lista gigantesca de coisas para fazer quando eu tiver tempo. Parte da minha ansiedade consiste em esperar esta oportunidade chegar. Hoje, porém, o tão esperado tempo vago colocou-se diante de mim, sorriu, e eu fiquei tal qual uma idiota paralisada, contemplando-o. Como que com medo de tocá-lo. Iria estragá-lo. Não seria mais vago, não seria mais livre. Estaria usando-o para me prender a afazeres que pareceram, de repente, tão menos importantes que a admiração daquele vão de tempo em que me encontrava. Mas logo me entristeci. Porque ele começou a se mexer, eu me assustei, de repente me vi correndo atrás daquele vão que já não existia mais. Que frustração não poder entrar no tempo, como num vagão, enquanto tudo do lado de fora corre e dentro nada se mexe, se eu não quiser em nada mexer. Ficar na janela, observando a sucessão de segundos, de minutos, de horas, do tempo que eu precisar dentro do meu vagão do não-tempo...mas ele corria e me deixava para trás. E eu não quer
me dê suas mãos vamos ao escuro leitura em braile dos nossos cortes ler do mais raso ao mais profundo o que entende? eu leio "urgente" na pele quente
Foto de Dayane Marques Meus olhos grandes... me despindo da alma à carne, desconstruindo meus sentidos para que eu aprenda com novos nortes a traduzir o braile desses fundos cortes.
Eu vivo assim: sob o peso do juízo do mundo, olhar dormente... Perdendo a vida em lances de dados, eu, dado a vícios, pressinto o fim. Ninguém nem sente, eu longe assim... Queda dos sentidos, Caí... Da altura das palavras que ousava definir. Calem-se todos: abismo em mim! Última dose... Estrelas caem, cores se esvaem, um ano a menos, um gole a mais... Empalideço em cinzas. Eu morro assim.
Foi ótima a carona, obrigada, até mais. Sim, o que foi, que vai fazer? Já fez... beijou... Então espera que eu vou beijar de volta... antes que o juízo volte, antes que o impulso falte, antes que seja tarde. Surpresa, sim. Surpreso, sei. E amanhã talvez eu não terei estado hoje em mim. Mas serei grata pela carona ainda assim.

Íris

 Magnetizado pela íris, confusão de cianos e cinzas. Variações em torno de azuis aquarelados, umedecidos. Eu, pálido exterior, gélido, ausente em meu corpo, quase morto, incolor. Sua mão de leve em meu braço faz despertar... Te enquadro no olhar, te analiso e desejo... Quente, presente em laranja, magenta e o vermelho... sangue! Fervendo nas veias. Cheiros, sabores, sentidos pulsantes. Eu, ofegante, ardente, crescente e de repente... Teus olhos desviam e se perdem em outros nem frios, nem quentes. Castanhos? Não lembro... Talvez faíscas de verde... Tons seguros, estáveis, que já te pertencem. Eu, quem sou eu? Mais um tom que compõe o ambiente de presença e ausência indiferentes. Recolho-me e murcho, aos poucos perdendo a cor como um livro entre outros, que se pega, cataloga, arquiva e se esquece na estante.

Fendas e Fugas

Quando envolta em um ambiente, a perspectiva perdia a lógica. Estranho esse universo que descobrira e tinha hora pra começar. De 8h às 18h, os ângulos eram retos e o mundo era plano. Saía então do trabalho, pegava o ônibus e na metade do caminho,  o asfalto das ruas dava sinais de vida. Ligeiros tremores que não eram sentidos pelos comuns passageiros. Era uma sensação exclusiva e indicava a passagem entre mundos. Uma montanha russa a empurrava até sua casa. A partir das 19h de cada dia, sua porta a surpreendia com novas arquiteturas, móveis estranhos de estilos mutantes. Talvez um dia iria se acostumar a chegar cada noite num novo quarto, onde jogaria suas sapatilhas surradas em qualquer canto, deitaria numa nova cama e se sentiria em casa. Enquanto em período de transição, seus pontos de apoio eram os pontos de fuga. Chegou. Seu lar de hoje, um cenário seco. Sem cama, sem sofá, sem as muitas almofadas que cobririam o chão de sua sala se sua vida acontecesse dentro do tempo.